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SCMBH 2024: Temas quentes que caem na prova
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Fazer questões de prova de Residência Médica de forma automática, sem avaliar acertos e sem pensar na correção dos erros, não é produtivo.
A gente já fala há muito tempo sobre a importância do efeito teste. Ele é uma das melhores estratégias, se não a melhor, para os alunos aprenderem Medicina (ou qualquer outra coisa).
Mas será que aplicar somente o efeito teste e fazer questões é o suficiente para aprender? É importante corrigir os erros durante a utilização desse método?
É sobre isso que vamos abordar no artigo de hoje!
Quando fazemos questões de provas de Residência Médica de forma automática, sem avaliar nossos acertos e sem pensar na correção dos nossos erros, não temos produtividade alguma. Fazemos uma constatação dos nossos erros, mas não aprendemos com ele.
E a verdade é que hoje em dia, muitas pessoas usam questões de prova de residência Médica na preparação. É muito difícil encontrar pessoas que não as utilizam. Mas é muito comum vermos o famoso erro de alunos que fazem questões no modo automático.
A revisão teórica do erro é o momento do aprendizado
Quando você faz a questão, você está constatando que não sabe um determinado conteúdo. Só que o momento que você vai realmente aprender é quando fizer a revisão teórica do erro.
Ela é fundamental para que a sua resolução de questões não seja uma perda de tempo.
Existe também uma grande diferença entre correção de erros e revisão teórica. É isso que vamos falar logo abaixo.
Vamos exemplificar utilizando um artigo de 2008, publicado na revista Memória e Cognição, com o título: Feedback melhora os efeitos positivos e reduz os efeitos negativos dos testes de múltipla escolha.
Nele foram criados dois grupos, o primeiro estudou antes de realizar o teste e o outro não. Em seguida, cada grupo foi dividido em mais três grupos e realizaram a prova novamente.
O primeiro grupo não recebeu o feedback, o segundo grupo recebeu feedback logo após a realização de cada questão e o terceiro grupo recebeu feedback depois de finalizar toda a prova.
Depois foi feita a comparação de todos os grupos, que ao todo foram seis. Três que haviam estudado e três que não haviam estudado antes do teste e, entre eles, os que receberam e não receberam feedback.
O interessante deste estudo é que as pessoas que receberam feedback e corrigiram os seus erros tinham uma maior probabilidade de acertar mais questões no segundo momento, quando o teste foi realizado novamente.
Mas o ponto principal desse estudo foi quando compararam as pessoas que tinham estudado previamente e não tinham recebido o feedback. Elas tiveram a mesma nota do grupo que não tinham estudado previamente, mas que havia recebido o feedback.
É como se fossemos comparar um aluno que assistiu videoaulas, leu roteiro de estudos e leu o mapa mental de síndrome coronariana, com uma pessoa que não viu nada disso, mas que fez uma prova na íntegra ou simulado sobre síndrome coronariana e recebeu um feedback.
Elas teriam basicamente o mesmo resultado.
Ou seja, na nossa visão e aplicando a metodologia Aristo, é melhor fazer a revisão inteligente (questões e flashcards) e depois a revisão teórica, do que apenas estudo teórico e revisão inteligente.
Esse estudo mostra o poder do efeito teste e o poder da correção dos erros.
Antes de entrarmos nessa parte, vamos falar como ela não deve ser feita. E ela não deve ser feita de forma automática.
Não se trata de apenas fazer questões de prova de Residência Médica e ler os comentários. Se você fizer 50 questões num dia e ler todos os comentários, você não vai memorizar nada. Você só vai reter de 10 a 20%, no máximo, de tudo o que você leu.
Lembra quando a gente precisava memorizar um número de telefone e pedia ajuda para um um amigo decorar os 5 primeiros números enquanto você decorava os 4 últimos? É o mesmo princípio.
Se não conseguimos decorar uma sequência de 9 números de uma vez, imagina reter uma tonelada de informações? Não é a melhor forma de fazer uma revisão teórica do erro realmente efetiva.
Porém, sabemos que o tempo para fazer tudo isso é escasso e, por isso, você deve definir bem quais temas vai incluir na revisão teórica.
Para escolher da forma certa você deve levar em consideração dois critérios:
A primeira coisa que você deve fazer é verificar as questões de prova de Residência Médica que você errou. E depois olhar o nível de dificuldade das questões, cada questão possui um nível e dependendo desse nível ela terá um peso maior ou menor na prova.
Na Aristo dividimos as questões em três níveis: fácil, médio e difícil. Destes três níveis a sua prioridade, sem dúvida, deve ser todas as questões de nível fácil. Depois você passa para as questões de nível médio e por último (se der tempo), as de nível difícil.
E por que fazemos assim?
Porque as questões de nível fácil, são as questões que os seus concorrentes vão acertar. Se você errar, vai acabar ficando para trás na tabela de classificação. Já as questões de nível médio, são as que definem quais candidatos ficarão nos melhores lugares.
Por exemplo, um aluno que tira 82% na prova da USP-SP e é aprovado para Anestesiologia, com certeza, teve 80% de acerto nas questões de nível médio e, pelo menos, de 90 a 95% de acerto nas questões de nível fácil. Esse é o tipo de perfil que é aprovado nas instituições mais concorridas.
Quer saber como passar em instituições concorridas? Leia nosso texto sobre o assunto aqui!
Quando olhamos para as questões de nível difícil e avaliamos porque o nosso desempenho não é bom nelas, entendemos isso acontece por conta da sua estrutura.
Geralmente, as questões difíceis são aquelas questões polêmicas com abertura para discussão ou são questões mal formuladas que posteriormente serão anuladas ou, ainda, são aquelas questões de rodapé de livro que cobram o detalhe do detalhe e que dificilmente serão estudadas.
Por isso, a revisão teórica do erros das questões de nível difícil deve ser a sua última prioridade. O seu foco deve ser questões de nível fácil e médio.
Você só vai dar atenção para as questões de nível difícil em duas situações:
O segundo ponto é exatamente o nosso próximo critério de priorização.
Você precisa olhar para o que é cobrado com regularidade na sua prova de residência. Então, se na sua prova de residência cai muito um determinado assunto, não importa se é uma questão difícil ou se não é um assunto tão importante de uma maneira geral. Você precisa olhar essas questões com mais atenção, para se preparar melhor quando for fazer a prova.
Quando um aluno vai fazer uma prova com muitas questões difíceis, é comum acabar se atrapalhando com isso. É muito mais intuitivo pensar que o certo é priorizar essas questões para ter mais chance de acerto.
As provas da AMP, SES-PE e da Santa Casa de São Paulo são famosas por terem um alto nível de dificuldade. Mas o que acontece na classificação dessas instituições? A nota de corte desce.
Então se, por exemplo, a nota de corte de uma boa instituição é de 75%, a nota de corte dessas instituições será de 65%. Por ter um nível difícil, os candidatos costumam ter um desempenho menor e por isso, a nota de corte cai.
Se a prova não fosse uma concorrência, se você tivesse que tirar uma nota de 80% para passar, independentemente do nível de dificuldade, então você teria que olhar para as questões de nível difícil.
O jogo da prova da residência é se dar muito bem nas questões de nível fácil e se dar bem nas questões de nível médio.
Sim, sabemos que é complicado deixar as questões difíceis de lado porque gera um incômodo. E nós não erramos por pouco, erramos por muito! E isso frustra.
Mas isso acaba tirando o foco, pois a atenção se volta para as questões que têm o menor peso na prova. E isso prejudica a sua preparação.
Isso é algo que pode gerar certa confusão, mas elas não são a mesma coisa.
A correção de erros das questões de prova de Residência Médica é algo que as pessoas já fazem, elas fazem as questões e depois olham no gabarito e no comentário por que erraram aquelas questões. A correção é necessária e deve ser sempre focada nas questões de nível fácil e médio.
A grande questão aqui é o efeito dos números de telefone que falamos anteriormente. Você não vai aprender com a correção de 50 questões. Mesmo que você só pegue as 15 questões de nível fácil e médio que você errou.
É muito difícil memorizar 15 conteúdos ao mesmo tempo.
E é aí que entra a revisão teórica dos erros, que nada mais é do que identificar dentre os erros que você corrigiu, quais erros não foram pontuais. Os erros que mostram que você tem uma lacuna importante naquele conteúdo.
Quer um exemplo?
Imagine que você errou uma questão sobre o tratamento da pneumonia comunitária, uma questão de nível fácil. Ao corrigir essa questão você tentou lembrar do assunto pneumonia e aí você percebeu que o problema não está apenas no tratamento da pneumonia comunitária.
Você também não lembra do diagnóstico, você não lembra dos agentes etiológicos, você não lembra dos quadros clínicos de cada agente etiológico etc. Você não se lembra de nada deste tema. Então, esse será o assunto que você vai escolher para fazer a revisão teórica.
Na Aristo, a cada prova na íntegra que os alunos fazem, pedimos que eles escolham de três a, no máximo, cinco temas para fazer essa revisão teórica. Utilizando os dois critérios de escolha que pontuamos: questões de nível fácil e médio e o erro não pontual, o erro que mostra alguma deficiência em determinado assunto.
E por que no máximo 5 temas?
Muitos alunos acreditam que precisam revisar 15 temas ou mais, principalmente, os que acreditam ter a base fraca, mas isso é perfeccionismo.
Como dissemos antes, não é possível estudar tudo ao mesmo tempo. Por isso, foque nesses 5 temas e não deixe a dúvida te paralisar. Se você revisar 5 temas a cada prova feita, semanalmente, a sua chance de evoluir é muito maior.
Falamos sobre as questões de prova de Residência Médica, mas é importante frisar que ler os comentários das questões não é fazer revisão teórica. Os comentários vão se ater a apenas o que a questão pede.
A ideia da revisão teórica é estudar o assunto como um todo. Se você lê apenas o comentário sobre a questão do tratamento da Pneumonia Comunitária você só vai estudar o tratamento e não o diagnóstico ou o agente etiológico, por exemplo.
O comentário é importante para a correção de erros. Para a revisão teórica é preciso utilizar um material mais completo, que percorra o assunto como um todo. Mas não existe uma fórmula mágica, cada material tem um tipo de produtividade diferente.
O que indicamos são os flashcards.
Aqui na Aristo fazemos flashcards que percorrem todo o tema estudado e que abordam os tópicos mais importantes, assim os alunos conseguem entender quais assuntos eles têm tido mais dificuldade. A partir daí, eles podem pegar a aula ou o roteiro escrito para se aprofundar mais no tema.
Quem faz outros cursos pode pegar a apostila, mas não leia a apostila inteira! O ideal é que a revisão teórica seja feita de 30 a 40 minutos por tema, se for um tema muito extenso, 1 hora no máximo.
Não gaste 2 horas para fazer a revisão teórica.E nem estude 2 vezes o mesmo assunto. A ideia é realmente focar no que você não domina.
Imagina que você fez uma prova e errou uma questão fácil sobre infarto. Você selecionou esse tema para fazer sua revisão teórica, fez a revisão. Só que na semana seguinte você voltou a errar uma questão sobre infarto. O que você faz?
Você precisa entender o motivo do seu erro.
Neste caso, você vai voltar a fazer a mesma análise. Pegar a questão de nível fácil ou médio e pensar:
Se for algo pontual, você vai ler o gabarito e o comentário e passar para a próxima, você não vai se preocupar com esse tema novamente.
Agora se você perceber que não aprendeu muito com a revisão teórica (e isso acontece!), repita a revisão mais uma vez, só que usando um material diferente do que usou na primeira vez, tente fazer uma nova abordagem.
A repetição faz parte do processo de memorização.
Num mundo ideal você deve seguir um cronograma de estudo teórico, fazer revisão inteligente (questões e flashcards), fazer a prova na íntegra e depois fazer a revisão teórica para ajustar os pontos que têm dificuldade.
Mas algumas pessoas não conseguem seguir o planejamento e ficam atrasadas no cronograma de estudo. Neste caso, vale a pena ir direto para as questões e depois, se sentir necessidade, fazer uma revisão teórica em cima dos seus erros.
Mas só se você já tem uma ideia do assunto, quando você parte do zero, as questões não vão te ajudar.
É como fazer intercâmbio. Se você tem inglês intermediário e vai passar um ano nos Estados Unidos e praticar o idioma diariamente, você vai voltar falando inglês. Agora se você for para a China, sem ter noção alguma de chinês, você vai voltar como foi, sem saber nada. Você precisaria de um estudo teórico sobre o idioma para poder evoluir com a prática.
É a mesma coisa com a prova de residência, se tem uma matéria que é chinês para você, é preciso estudar com um material teórico antes e só depois fazer as questões.
A questão é que maioria dos alunos já possuem uma base dos principais temas. Então, ninguém está zerado nos principais assuntos. Por isso, a prioridade deve ser fazer as questões, fazer as provas na íntegra, principalmente, as provas prioritárias, e depois fazer a correção em cima dos erros cometidos.
Não vale a pena se preocupar em ficar em dia com a matéria. Isso é uma grande ilusão!
Quando focamos nisso estamos pensando apenas no estudo teórico. E a preparação vai muito além disso. Como dissemos anteriormente, mas que não custa repetir, na JJ existem quatro tipos de estudo:
Colocar toda sua energia apenas no primeiro tipo para ficar em dia com as matérias é um grande tiro no pé. O tipo mais importante é, de longe, o estudo prático. E isso significa fazer questões e provas.
Portanto, se você tiver que sacrificar um desses itens, sempre será o estudo teórico e nunca o estudo prático. Ou seja, a prática regular com correções é o item mais importante!
É preciso fazer os dois, não faça questões de prova de Residência Médica no modo automático. Sem a revisão teórica dos erros você não vai aprender e não vai aumentar o seu desempenho.
Se você está fazendo muitas questões e não tem tempo de corrigi-las para fazer a revisão teórica dos seus erros, vale a pena diminuir o número de questões.
E como disse anteriormente, reduza o estudo teórico para conseguir dar foco ao estudo prático e a revisão teórica.
Muitas vezes os alunos não fazem questões e provas por insegurança, as pessoas não querem errar e isso é compreensível. Errar é frustrante e desmotiva. O erro nos coloca em cheque e passamos a duvidar da nossa capacidade.
Só que na preparação para a prova de residência, o erro é o nosso maior aliado.
É com os erros que conseguimos evoluir. Se você faz uma prova e tira 100%, você não aprendeu com ela. Agora, se você fez a prova e tirou 50%, isso quer dizer que você tem 50 oportunidades para evoluir. São 50 erros sobre assuntos que você não sabia e tem a chance de aprender.
Pode ser que você não memorize os 50, mas com certeza você vai aprender utilizando uma parte desses erros. O erro é parte do processo de aprendizado.
Se você não se abrir ao erro, você não vai evoluir.
E isso serve não apenas para a prova de residência, mas para qualquer coisa que você queira aprender ao longo da sua vida.